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Na contramão

O aspirante a poeta e presidente Michel Temer de vez em quando se atreve a penetrar no reino das palavras para cometer alguns poemas.

No intitulado “Exposição”, o bardo do PMDB – se é que tal coisa é possível – começa com uma conclusão: “Escrever é expor-se. Nas linhas e entrelinhas”.

Impossível não ler o mais recente monumento ao atraso da lírica peemedebista, batizado de “Uma Ponte para o Futuro”, e não embaraçar sua prosa reveladora aos versos de Temer.

O PMDB se expôs, nas linhas e entrelinhas. A ponte para o futuro é o caminho para novos golpes. Além da queda do governo, o PMDB trama um golpe incontestável contra os direitos e as conquistas históricas dos trabalhadores.

As 6.369 palavras escolhidas para compor o documento revelam o espírito da agenda política e econômica do partido. Agenda ilegítima porque nem sequer tem respaldo eleitoral.

Não à toa, os termos “trabalhador”, “igualdade”, “justiça social” e “reforma política” não aparecem no texto. A palavra “cidadania” é citada apenas uma vez, em referência ao esforço necessário ao ajuste fiscal.

No documento, a turma de Temer e Eduardo Cunha revela o plano de acabar com a obrigação legal de investimentos mínimos em saúde e educação, o que tornará os serviços públicos ainda mais precários.

Atualmente, a legislação estabelece que os Estados e municípios destinem à saúde, respectivamente, pelo menos 12% e 15% da arrecadação. Já o governo federal não pode reduzir os investimentos de um ano para o outro e deve aumentá-lo proporcionalmente à variação positiva do PIB.

Em relação à educação, a Constituição determina que pelo menos 25% da arrecadação de Estados e municípios seja destinada ao setor. Para a União, o percentual é de 18%.

O desmonte do Estado se completa com a defesa de um amplo programa de privatizações que inclui serviços públicos essenciais.

No campo do trabalho, o PMDB planeja pôr fim à política de distribuição de renda através da valorização do salário mínimo, que atualmente é reajustado de acordo com a variação do PIB, e estabelecer a primazia de acordos coletivos entre patrões e empregados em detrimento da legislação trabalhista.

O Rio de Janeiro conhece bem as consequências do cinismo modernizante do PMDB. O grupo de Cunha, Eduardo Paes e Sérgio Cabral saqueou e quebrou o Estado, que vive crise mais grave do que o país. Servidores aposentados e pensionistas estão sem receber seus benefícios.

As pontes para o futuro jamais serão erguidas por um partido que representa e se beneficia do que há de pior no sistema político brasileiro. Cunha e Temer escreveram e expuseram que vivemos tempos de fezes e maus poemas.