“A gente precisa sobreviver a 2018”, me disse Marielle quando falávamos sobre as urgências políticas e eleitorais que se sobrepunham à vida cotidiana. Não imaginávamos que, às vésperas de um processo eleitoral incerto, ela seria vítima de um bárbaro crime político que a eternizou.
Eu só queria que ela sobrevivesse! Quando me deparei com aquela cena de horrores, questionei o motivo de não a terem levado, com Anderson, ao hospital. Eu tinha um fio de esperança de que ela sobrevivesse, mais uma vez. Afinal, não foram poucos os momentos em que Mari sobreviveu a tiroteios, no asfalto e na favela.
Não é à toa que muitas delas encontram em Marielle uma referência. No 40º dia de sua execução, algumas abraçaram e beijaram emocionadas dona Marinete. É muito difícil acolher e se manter presente na dor. Com Mari aprendemos que o amor move essas mulheres. Essas mães jamais terão seus filhos de volta, entretanto ganharam uma nova filha por quem lutar. É por Marielle. Mas é por nós. Não recuaremos.
*Renata Souza é ex-chefe de gabinete de Marielle Franco