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Mam’etu Mabeji recebe a Medalha Tiradentes da Alerj

Na manhã desta quinta-feira (24/08), Freixo entregou a Medalha Tiradentes, a condecoração mais importante da Alerj, para Floripes Correia da Silva Gomes, a Mam’etu Mabeji, grande sacerdotisa do candomblé Angola do Brasil. Com 81 anos de vida, Floripes completa sete décadas de iniciada em 2017. É sacerdotisa bantu, o povo do Ubuntu, que ensina que uma pessoa só existe plenamente quando se entende coletivamente, como parte de um todo. A homenagem feita à mãe de santo e sua luta pela preservação da religião se estendeu a todas as mulheres negras, escravizadas e lutadoras dos quilombos, que resistiram através de sua fé e do afeto entre irmãos e irmãs.

 

Foi uma manhã de festa, com música, celebração e afeto, entre idosos, jovens e crianças. O encontro foi repleto de afeto, marca conhecida da história e das relações da mãe de santo. “Mam'etu Mabeji tem uma história longa e muito bonita de amor como formo de conduzir a vida e cuidar da família. Essa medalha é uma forma de homenagear também o mundo que a gente quer, a filosofia que a gente defende. Democracia não é só o direito de votar. É o direito de sermos quem somos e de acreditarmos no que quisermos”, disse Freixo.

O deputado Flavio Serafini, um dos principais apoiadores da campanha Liberte Nosso Sagrado, que visa realocar os objetos sagrados das religiões afro-brasileiras que se encontram no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro. “Trabalhamos para que o Rio de Janeiro reconheça de fato a importância da cultura africana, negra, na construção do que somos hoje. E não de forma subalternizada, de escravidão. Mas de forma viva, forte, no centro dos nossos principais espaços de poder. É necessário reconhecer que o racismo religioso foi um erro e que as populações negras têm que ser valorizadas e reparadas”, afirmou.

A mãe de santo foi também homenageada por sua família. “Mam'etu Mabeji é um exemplo de mãe, avó, mulher e brasileira. É mulher de resistência, de luta, que sempre soube se posicionar, mesmo nos dias conturbados que vivemos hoje”, disse Tat'etu Sajemi. Já Tat'etu Kavunjesi falou sobre a importância da homenageada para a preservação da religião. “Mam'etu Mabeji é sinônimo de dedicação, amor, carinho e respeito. Sem dúvida é a flor do candomblé. Floresce e perfuma nossa existência. Ao seu lado sentimos que nada no mundo pode nos abalar. Nos sentimos privilegiados por viver esse reconhecimento dos seus anos de luta e dedicação para manter viva a chama do candomblé”. Tat'etu Kavunjesi relembrou a importância da homenagem diante do racismo e preconceito que as religiões de matrizes africanas ainda sofrem. “Agradecemos por esse reconhecimento da importância de Mam'etu Mabeji para candomblé e para o Estado do Rio de Janeiro. Ainda mais em tempos de tanta intolerância religiosa e da proibição de realizações de cultos”, disse.

Mam'etu Mabejí nasceu em Salvador, na Liberdade, que é o maior bairro negro fora da África no mundo. Veio para o Rio de Janeiro com 10 anos e aos 11 anos foi iniciada por João Lessêngue. É filha o Inquíce (Inkice) Unsúmbo (Nsumbu) e, desde 1972, está no comando do Kupápa Unsába. Sacerdotisa bantu, o povo do Ubuntu, segue os valores da coletividade, de que uma pessoa só existe plenamente como parte de um todo.