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Fé e Direitos Humanos: Freixo homenageia teólogo Ronilso Pacheco

Por Equipe Marcelo Freixo

Num ano marcado pela luta contra o racismo religioso, celebramos nesta segunda-feira (11) o evangelho que vê, sente e age para superar, ao lado dos oprimidos, injustiças e intolerância. Nosso Mandato entregou a Medalha Tiradentes, a mais importante comenda do Legislativo estadual, ao militante da teologia negra e escritor Ronilso Pacheco.

Para o pastor batista Clemir Fernandes, que compôs a mesa na homenagem e conhece Ronilso desde o princípio de sua militância, o amigo assume de forma radical o espírito da mensagem de Jesus Cristo em favor dos que têm seus direitos cotidianamente violados. “Ronilso é um pastor de justiça, que não aceita a realidade que está dada. E é também um pastor de esperança, que na radicalidade do amor luta para promover a cidadania”, afirmou.

Afeto, resistência, negritude e fé estiveram no centro da homenagem, realizada na manhã seguinte ao Dia Internacional dos Direitos Humanos e iniciada por Lucas Obalera, cientista social e candomblecista do Terreiro Ilê Axé Onixegum, que narrou o conto “Um Itan”. O itan, que significa história em iorubá, tratou da importância da cultura negra e das divindades africanas na resistência contra a escravidão. “Sem ancestralidade, nenhum preto e nenhuma preta estariam aqui hoje”, disse Lucas.

Ancestralidade que para Ronilso, de maneira imediata, remonta à vida na periferia de São Gonçalo, lembranças recordadas por sua irmã, Penha Pacheco. “Agradeço a Deus de todo o coração. Hoje meu irmão é um teólogo evangélico, escritor e defensor de nossa raça”, declarou emocionada.

Penha Pacheco e Juliana Maia, irmã e companheira de Ronilso, respectivamente (Foto: Mayara Donaria)

Fé e Direitos Humanos

Ronilso é parte de um grande movimento dentro de igrejas protestantes que reafirma a mensagem humanista e socialmente engajada do evangelho contra discursos religiosos que pretendem legitimar opressões. A premissa é de que Jesus foi marginalizado e vítima da violência, e dedicou sua vida a caminhar ao lado de seus iguais. Por isso o laço essencial entre cristianismo e Direitos Humanos.

Neste sentido, a companheira de Ronilso, Juliana Maia, falou sobre como política e a espiritualidade se misturam na militância. “Ronilso consegue reunir a pluralidade. Para além da conjuntura política e social, há a importância espiritual. Ele é um homem de fé. E essa fé se constrói na luta ao lado dos oprimidos. Ele reúne a denúncia da militância com amor e afeto”, contou.

A teóloga e professora da PUC Teresa Cavalcante mostrou como a bíblia está repleta de mensagens de protesto e esperança. Ela expressa tanto a indignação diante da exclusão e da violência e quanto a possibilidade real de se criar um mundo novo e mais justo. Essa mistura de profecia e utopia traduz a mensagem de Jesus e inspira profundamente a atuação do campo progressista evangélico. “É ir contra o que está errado, ir contra as injustiças. Jesus nasceu sem teto. O Natal deveria ser celebrado como uma denúncia em defesa dos que estão sem teto”, argumentou.

Ronilso discursa no plenário da Alerj após receber a Medalha Tiradentes (Foto: Mayara Donaria)

Caminhos coletivos

Antes de entregar a Medalha Tiradentes a Ronilso, Marcelo Freixo destacou que aquela era uma homenagem à sua história e também aos homens e mulheres que lutam, sob a inspiração do evangelho, por um mundo mais fraterno. A medalha foi uma homenagem a todos e todas que participam que conhecem as dores e esperanças cotidianas do povo negro e pobre do Rio de Janeiro.

Em discurso após receber a comenda, Ronilso citou Isaías ao ressaltar a necessidade de restaurarmos caminhos de forma coletiva, unindo experiências, diferenças e utopias em favor da transformação. Somente através dessa união fraterna e comprometida com as lutas contra o racismo, o machismo, a discriminação de classe, a LGBTfobia avançaremos em nossas conquistas.

“As opressões não estão só nas estruturas, mas no cotidiano. As nossas lutas envolvem essas relações micro. Nós temos a nós mesmos, nossos amigos, nossa comunidade. Temos uns aos outros – os que continuam insistindo, não se acovardando, não se diminuindo. Dizia Martin Luther King que os sonhos estilhaçados são a marca da nossa mortalidade. Ter sonhos estilhaçados faz parte da nossa vida. A diferença é o quanto estamos dispostos a assumir os riscos de lutas e caminhos construídos coletivamente. Faço isso a partir desse lugar de fé. Minha fé é sensível porque se juntou com muitas outras, com outras histórias, caminhos e experiências. Vou guardar esse dia como um momento muito especial e marcante, mas ciente de que nessa cidade, no cotidiano onde não existe cerimônia, nós continuaremos juntos, caminhando”, concluiu.